Voo Amadora – Timor e regresso - 1934

A 25 de outubro de 1934 partiram da Amadora os aviadores Tenente Humberto da Cruz e o 1º Sargento António Gonçalves Lobato, numa viagem por etapas, com o objetivo de chegarem a Timor e no regresso, passarem igualmente por Macau e Índia portuguesa. Tratou-se da mais longa viagem até então realizada pela aeronáutica portuguesa, totalizando cerca de 42.600 Km.
De referir que Humberto da Cruz já era um aviador reconhecido, tendo realizado em 1930 com Carlos Bleck na viagem Amadora / Guiné / Angola /Amadora, a primeira viagem de ida e volta a uma colónia portuguesa.

Humberto da Cruz e António Gonçalves Lobato, junto do avião na Amadora (foto retirada da pub.5)

O próprio Humberto da Cruz concebeu a viagem e com a ajuda de uma subscrição pública lançada pelo jornal “O Século”, o apoio do Governo e de entidades privadas (que em conjunto contribuíram para os 220 contos necessários), conseguiu comprar em Inglaterra um avião De Havilland DH- 85 Leopard-Moth. Foi igualmente Humberto da Cruz quem pilotou o aparelho desde a fábrica inglesa até à Amadora. 

Preparativos para o início da viagem a partir do aeródromo da Amadora (foto retirada da pub.4)

Com um motor de “Gipsy-Major” de 130 C.V.V, que atingia uma velocidade de cerca 190 Km/hora, esta aeronave teve de ser adaptado com depósitos suplementares de gasolina e óleo que lhe aumentaram a autonomia de 6 para 9 horas de voo. Não dispunha de comunicação via rádio e os tripulantes também não levavam paraquedas, uma vez que o aparelho estava na sua carga máxima. Pintado de vermelho, com as Cruzes de Cristo nas asas e o nº30 na fuselagem. O avião só foi batizado com o nome de “Dilly”, depois da chegada a Timor .


Após um percurso que os levou pelo norte de Africa, Médio Oriente, Índia e Indochina, em 14 etapas voadas precisamente em 14 dias, chegaram a Timor a 7 de novembro. No regresso, aterraram em Macau a 18 do mesmo mês e 1 de dezembro em Goa.

Convívio no final da viagem, na messe dos oficiais na Amadora (foto retirada da pub.3)
Diversas individualidades recebem os aviadores na Amadora (foto retirada da pub.3)

No dia 21 de dezembro de 1934 Humberto da Cruz e Gonçalves Lobato concluíram a última etapa, aterrando no aeródromo da Amadora um par de horas antes do previsto, pois devido ao agravamento do estado do tempo, tinha aumentado a velocidade nesse dia.  Foram recebidos com todas as honras pela imprensa e entidades militares, e sobretudo por um número crescente de populares, que se deslocaram de propósito ao aeródromo da Amadora. Prosseguiram depois, acompanhados por um cortejo de carros, até à Câmara Municipal de Lisboa, onde decorreu a receção oficial.

Placa comemorativa do viagem, no Parque Delfim Guimarães (foto do autor)

Alguns meses após a viagem, António Gonçalves Lobato viria a falecer num acidente ocorrido em Viseu, no âmbito de um evento integrado nas Festas de Lisboa, à semelhança do Festival Aéreo que decorreu na Amadora poucos dias depois. Quanto a Humberto da da Cruz, haveria de participar igualmente no Cruzeiro Aéreo às Colónias em 1935, fixando entretanto residência na Amadora, onde faleceu em 1981.
Em 1947 foi colocada no atual Parque Delfim Guimarães uma Placa comemorativa da viagem,  iniciativa levada a cabo pelo "Jornal de Sintra", aludindo às datas de partida e chegada dos aviadores que realizaram esta épica viagem.


Texto: Eduardo Rocha

Bibliografia:

1 - PEIXOTO, M. Lemos, Homens e Aviões na História da Amadora, Ed. CMA.

2 - CRUZ, Humberto Amaral (1935), A viagem do “Dilly”: Lisboa, Timor, Macau, India: 25 de Outubro 1934 – 21 de Dezembro 1934, Edição Sintra Gráfica.

3 - Catálogo “GEAR – O Grupo de Esquadrilhas de Aviação República, Exposição Temporária, 21 de maio de 2016 a 14 de maio de 2017”, Ed. Núcleo Museográfico do Casal da Falagueira, CMA.

4 - CALIXTO, Vasco (1987), “Páginas da História da Amadora”, Ed. Câmara Municipal da Amadora, pp. 187-189.

5 - CORREIA, Mário Mota, "Viagens Aéreas dos Portugueses - Lisboa-Timor-Lisboa", Print PDF on-line, Edição Museu do Ar.  

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