Aqueduto das Águas livres
Este aqueduto é a maior obra de engenharia hidráulica do século XVIII em Portugal. Tem aproximadamente 58 Km de extensão (incluindo os seus ramais), muitos deles no Município da Amadora. Foi mandado construir por D. João V, a fim de solucionar o problema da escassez de água em Lisboa, que se vinha agravando à medida que a população aumentava.
Anteriormente, a cidade era abastecida de água das nascentes da sua parte oriental, nomeadamente as existentes na parte baixa da colina de Alfama, outras fontes menores e por diversas cisternas. Estas fontes tornavam-se escassas à medida que se desenvolvia o tecido urbano, sendo do século XVI as primeiras referências para a necessidade de se construir um aqueduto para abastecer a Capital. Francisco d'Olanda apresenta como exemplo a existência de ruinas romanas de um antigo aqueduto com essa função, para defender o aproveitamento das águas da nascente da Água Livre, junto à ribeira de Carenque.
| Travessia do Aqueduto num dos vales mais profundos do seu percurso, na Damaia. |
Mas seria o Rei Magnânimo a impulsionar este projeto, enquadrando-se numa visão mais alargada de dotar Lisboa de infraestruturas próprias de uma capital de um vasto Império. Foi o procurador da cidade de Lisboa, Cláudio do Amaral, que 1728 tomou as diversas medidas legais indispensáveis ao início da obra. Em 20 de julho de 1729, um decreto real permitiu aos Senados de Lisboa Oriental e Ocidental criar impostos sobre vinho, carne, azeite, sal e palha para financiar as Águas Livres. Em 16 de setembro desse ano, foram aprovados esses impostos, estimando-se uma arrecadação anual de 300.000 cruzados.
A construção arrancou em 1731 e avançou nos anos seguintes de forma a permitir que em 1748, as águas das zonas de Caneças, Carenque e Porcalhota corressem pela primeira vez em Lisboa, nas Amoreiras. O principal destino das águas deste aqueduto era o abastecimento da parte ocidental de Lisboa, distribuídas a partir de uma monumental Mãe d´Água.
No entanto, as obras iriam continuar durante todo o século XVIII, prolongando-se ao início do século XIX, com a execução dos ramais e chafarizes. Pese embora seja composto por troços projetados por dois engenheiros diferentes, Manuel da Maia e Custódio Vieira da Silva, mantém uma certa unidade construtiva. As áreas designadas como Mães d´Água, as claraboias, os troços sobre os vales e o trecho das Amoreiras apresentam um tratamento construtivo mais detalhado, com elementos decorativos neoclássicos e barrocos.
| Mãe de Água Velha |
O início do Aqueduto é assinalado a cerca de 14 Km das Amoreiras, na nascente da Água Livre, sobre a qual foi construída a Mãe d´Água Velha, junto à Ribeira de Carenque, nos limites do Município de Sintra com a Amadora.
| Placa que assinala o início do aqueduto na sua primeira forma. |
Mas esta captação de água revelou-se insuficiente, pelo que como referimos, a rede teve de ser estendida. Bom exemplo dessa expansão é a Mãe d´Água Nova, situada na Amadora, que reúne as aguas de alguns aquedutos subsidiários e enquadrando o troço principal, que passou a ser proveniente de Caneças, mais a montante do que a fonte inicial.
| Mãe d´Água Nova. |
Desta forma o aqueduto apresenta uma grande capilaridade e é abastecido por diversas nascentes de água, formando uma rede de ramais que entroncam no aqueduto principal (ou geral) ao longo do seu percurso, formando um conjunto relativamente extenso e sinuoso.
Do ponto de vista técnico, a solução para transportar a água assenta na ação da gravidade, sendo assegurado um declive ajustado e constante para a sua circulação, seguindo princípios técnicos com origem na antiguidade clássica, nomeadamente do período romano. A necessidade de uma pendente constante, que assegurasse a fluidez das águas, implicava o ajustamento à geografia do terreno, colmatando os desníveis com recurso a túneis e pontes.
Desta forma a maior parte da sua estrutura está implantada de forma subterrânea, surgindo arcadas em zonas de vales, com arcos de volta perfeita, abatidos ou apontados, construídos em cantaria de calcário em aparelho regular (isódomo), sustentando a estrutura envolvente da caleira. Destaque para a travessia dos vales mais profundos, como em Carenque, Reboleira, Damaia e Alcântara, onde são utilizadas as arcarias referidas a uma escala monumental, sendo os 14 arcos apontados sobre o Vale de Alcântara o exemplo mais emblemático.
| Escada no interior do Aqueduto, próximo da Mãe d´Água Velha. |
A caleira, por vezes dupla, por onde corre a água, é coberta por paredes de alvenaria argamassada, com cobertura predominantemente curva, apresentando respiradouros ou claraboias (maioritariamente nos troços subterrâneos), que asseguram a iluminação das galerias e oxigenação para manter a qualidade da água. As suas dimensões interiores permitiam a fácil circulação, com um pé-direito à escala humana, para a necessária manutenção técnica, mas não só. Nalguns troços era possível a mera visita lúdica ao interior, com rampas próprias e lanços de escadas, correndo em paralelo às caleiras de água.
Para além da monumentalidade que apresenta exteriormente, marcando visivelmente a paisagem em partes do seu percurso (como é o caso das referidas passagens nos vales mais profundos), alguns dos espaços interiores apresentam igualmente uma arquitetura e funcionalidade que excede a sua mera função técnica. Neste caso salienta-se as Mães d´Agua, que pela sua arquitetura, enquadramento do espaço de circulação e efeito cénico apresentado, conferem igualmente uma dimensão lúdica e de usufruto deste espaço.
| Visita à Mãe de Agua Nova pela ARQA, em parceria com o Museu da Água e Museu da Amadora |
Texto: Eduardo Rocha


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