Aqueduto Romano na Amadora

A construção de sistemas de captação, transporte e distribuição de água conheceu um desenvolvimento muito significativo durante o domínio romano, constituindo uma marca civilizacional da sua presença nosso território, sendo o aqueduto situado na Amadora um bom exemplo da engenharia romana e da durabilidade destas construções.

Fig. 1 -Troço do Aqueduto junto ao bairro da Mina. (foto ARQA)

Referências históricas e redescoberta

Desde que Francisco d´Holanda a ele se referiu no século XVI (Fig. 2 ), este aqueduto tem sido citado por diferentes autores, sendo inclusivamente apontado como um exemplo a seguir em termos de localização da captação de água, por parte dos defensores da construção de uma estrutura semelhante para abastecer a cidade de Lisboa . Este ultimo projeto seria concretizado já no século XVIII, quando foi edificado o Aqueduto das Águas Livres. 

Fig 2 – Barragem romana de Belas  e fonte prevista para o Rossio, representação em Francisco d’Holanda, Da Fábrica que Falece à Cidade de Lisboa, Lisboa, Livros Horizonte, 1984, fl.18v

Perdendo-se entretanto a memoria da localização exata do aqueduto romano, pese embora as diversas referências bibliográficas, foi novamente identificado e estudado já na segunda metade do século XX. Em 1979 foi reconhecido o primeiro troço, seguindo-se diversas prospeções e sondagens ao longo do seu percurso, que se prolongaram pelo ano seguinte (Fig. 3). Mais tarde, entre o final de 1991 e início de 1992, foram efetuadas intervenções complementares, nomeadamente o desenho das secções, bem como o seu levantamento topográfico e fotográfico (Viegas e Gonzalez, 1996, pag. 5).

Fig. 3 - Intervenção arqueológica em 1979

Percurso e arquitetura do aqueduto

Julga-se que teria como origem mais provável a Barragem Romana de Belas (Fig. 4), que represava a ribeira de Carenque, mas não foram identificados vestígios entre esta estrutura e a povoação propriamente dita. No percurso até hoje conhecido, o troço identificado mais a montante surge imediatamente a sul da povoação de Carenque. 


Fig. 4 - Barragem romana de Belas (foto ARQA)

O aqueduto desce depois o vale da ribeira, seguindo um trajeto semelhante ao do referido Aqueduto das Águas Livres do séc. XVIII, que o intercetou e o terá destruído em larga escala. Inflete posteriormente para oriente em direção à Amadora, conhecendo-se o seu percurso até ao início do bairro da Mina. A parte identificada corresponde a uma extensão aproximada de 1.300 metros, tendo sido intervencionados 14 setores, nos trabalhos arqueológicos realizados pela ARQA no início da década de 90  (Viegas e Gonzalez, 1996, pag. 3).


Fig. 5 - Um dos troços identificados (foto ARQA)

Em termos de arquitetura é constituído tipicamente por uma base retangular em opus caementicium (um tipo de cimento romano), que assenta diretamente sobre o terreno. Sobre esta base foram construídas duas paredes, do mesmo material, formando assim uma caleira, que se encontra revestida a opus signinum (argamassa impermeabilizante), por onde circulava a água (Fig. 5 e 6). Nalguns troços foram identificadas algumas variações a este padrão, como sobre elevação das paredes do aqueduto ou reforço do revestimento em opus signinum. De referir que nas intervenções arqueológicas efetuadas não foi identificado qualquer elemento que pudesse pertencer a uma eventual cobertura da caleira do aqueduto,  o que a confirmar-se de futuro, será um forte indício de que o aqueduto teria afinal fins agrícolas (Viegas e Gonzalez, 1996, pag. 8).

Fig. 6 - Um dos troços identificados (foto ARQA)

De forma a assegurar à caleira uma pendente regular, que permitisse conduzir a água por ação da gravidade sem o recurso a obras de engenharia de maior envergadura, o percurso do aqueduto segue aproximadamente o traçado das curvas de nível no terreno. No entanto, um dos elementos mais importantes detetados foi uma queda de água no setor 13, com um desnível de cerca 0,70 m, possibilitando uma descida acentuada nessa zona da cota da caleira, sem que fosse necessário alterar a inclinação da mesma (Viegas e Gonzalez, 1996, pag. 7). De referir que no interior desta queda de água foram encontrados depósitos de calcite, cerca de 150 no total, estratificados por cor e textura, indiciando uma formação sazonal associada a variações no caudal, provavelmente anuais, apontando para utilização do aqueduto pelo menos durante século e meio (Viegas e Gonzalez, 1996, pag. 8).

O cálculo aproximado do seu caudal permitiu concluir que seria semelhante aos existentes em cidades como Pompeia, sendo admissível por essa via que se destinasse ao fornecimento de um aglomerado populacional de ordem de grandeza semelhante, tornando neste caso como destino mais provável a cidade de Olisipo (Lisboa), hipótese que está ainda sem comprovação arqueológica.

Texto: Eduardo Rocha

Bibliografia

1 - VIEGAS, J. C.; GONZALEZ, A. (1996) - Aqueduto Romano da Amadora. Relatórios. Amadora: ARQA - Associação de Arqueologia da Amadora, 2.

2 - MIRANDA, J. A., ENCARNAÇÃO, G., VIEGAS, J. C., ROCHA, E., GONZALEZ, A. (1999), Carta Arqueológica do Paleolítico ao Romano (Amadora), Amadora, Câmara Municipal da Amadora.

3 - ROCHA, E. (2004) – Descobertas Arqueológicas na Amadora. ARQA, Património em Revista. Amadora: Nº1, pp 28-35.


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