Festa da Árvore e das Escolas - 1913

 A implantação da República em 1910 veio originar um  contexto político adequado para a realização grandes eventos sociais de sensibilização dos cidadãos, onde se enquadravam as Festas da Árvore. Estas tiveram o seu início ainda no período final da monarquia, por iniciativa de organizações republicanas, nomeadamente a Liga Nacional de Instrução. Esta instituição promoveu a primeira Festa da Árvore no Seixal em maio de 1907, seguida nesse mesmo ano em Dezembro de nova Festa, desta vez em Lisboa. Dava-se assim forma a um movimento de celebração e evocação dos benefícios da Árvore e da Floresta, com um conjunto de iniciativas marcadas essencialmente pela plantação de árvores, acompanhadas de um ambiente festivo e de discursos de sensibilização a favor da árvore.

Concentração dos carros alegóricos, junto da Casa Aprígio Gomes. (foto retirada de “Memórias de António Cardoso Lopes, Câmara Municipal da Amadora, 1987”)

Em 1908 a Direção Geral de Instrução, assumiu a responsabilidade de promover a generalização da Festa da Árvore a todas as escolas do país, se bem que foi a Liga Nacional de Instrução, de que era presidente Bernardino Machado, a grande dinamizadora das Festas até 1912. 

A partir desse ano o jornal “O Século Agrícola” assume a primazia das comemorações lançando uma forte campanha de promoção das mesmas junto dos governantes e das autarquias, das escolas, das associações e naturalmente os agricultores. De 1912 a 1915 decorreu o período áureo das festas da Árvore da 1ª república, salientando-se o ano de 1913, quando se registaram um conjunto significativo de eventos em diversas cidades e povoações a nível nacional.

Cortejo de carros alegóricos em frente da Quinta do Assentista. (foto retirada de “Memórias de António Cardoso Lopes, Câmara Municipal da Amadora, 1987”)

Foi neste âmbito na primavera de 1913  a “Liga dos Melhoramentos da Amadora” organizou a “Festa da Árvore e das Escolas” na Amadora,. Não era o primeiro evento do género na localidade, uma vez que em 1909 e 1910 já tinha decorrido eventos similares, mas este foi seguramente o mais marcante.

Postal ilustrado por Roque Gameiro

Na realidade a Festa da Árvore deu lugar a dois eventos, o primeiro em 9 de março, seguindo os preceitos de “O Século Agrícola”, que estipulou este dia para a comemoração da Festa Nacional da Árvore.

Cortejo de carros alegóricos junto do "Palácio", com Manuel de Arriaga à janela. (foto retirada de “Memórias de António Cardoso Lopes, Câmara Municipal da Amadora, 1987”)

A 13 de abril desse ano decorreu o segundo evento, denominado “Grande Festa da Amadora consagrada à Árvore e às Escolas”. Contando com a presença do Presidente da República Manuel de Arriaga, procedeu-se igualmente à inauguração das novas instalações das escolas oficiais e das instalações de exploração de água da Mina. Seguindo o respetivo programa, a festa teve início pelas 7 horas da manhã com a distribuição de alimentos a 50 pobres e de vestuário a 90 crianças carenciadas. 

Inauguração da Escola Primária, nas instalações do antigo “Palácio da Porcalhota” com a presença do Presidente da República Manuel de Arriaga (foto retirada de “Memórias de António Cardoso Lopes, Câmara Municipal da Amadora, 1987”)

Seguiu-se um grandioso cortejo de carros alegóricos, integrando as “corporações dos bombeiros do concelho de Oeiras, Escolas da Amadora, Cintra e Paço d´Arcos, varias sociedades musicais e outras agremiações”. Da parte da tarde, com a chegada do Presidente da República Manuel de Arriaga, decorreram as sessões solenes de inauguração das Escolas Oficiais e do Bairro – Parque da Mina, tendo posteriormente sido servida uma merenda a 400 crianças nos Recreios Desportivos, concluindo a parte diurna dos festejos com a libertação de 400 pombas. O evento prosseguiu nessa noite com a atuação de diversas filarmónicas nos Recreios da Amadora e a iluminação festiva de diversos espaços públicos.

Inauguração do Bairro da Mina

A afluência de gente à Amadora em festa foi notável. Do Rossio, Sintra e Cascais os comboios partiam apinhados e até nos tejadilhos se acomodavam pessoas. As ruas estavam todas embandeiradas e davam-se os últimos retoques nos carros que deviam desfilar, sendo que esse trabalho era feito nas garagens da firma Santos Matos & Cª, e às primeiras horas da manha já se andava aos encontrões pelas ruas, tal era a multidão.

Programa da Festa (imagem retirada de “Memórias de António Cardoso Lopes, Câmara Municipal da Amadora, 1987”)

Em 2013, festejando-se o 100º aniversário da Festa da Árvore e no âmbito das comemorações do 25 de Abril na Amadora, a ARQA juntou-se à festa realizada no Parque Delfim Guimarães, promovendo diversos ateliês de divulgação de arqueologia e história local.

Mina de Água (foto ARQA)



O antigo Palácio da Porcalhota (foto ARQA)

Texto: Eduardo Rocha e Ana Maria Silva


Bibliografia:
CALIXTO, Vasco (1987), “Páginas da História da Amadora”, Ed. Câmara Municipal da Amadora.

LOPES, António Cardoso Lopes (1989), Apontamentos para a História da Amadora, Ed. Câmara Municipal da Amadora.


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