Voo Amadora - Angola e regresso - 1930

 A 30 de dezembro de 1930 partiu da Amadora, com destino a Angola, um dos voos pioneiros da aviação portuguesa. Acabou por ser a primeira viagem de longo curso com regresso no próprio avião, feita por aviadores portugueses. Foi concretizada pelo Tenente Humberto da Cruz, e pelo aviador Carlos Bleck, um dos principais pioneiros da aeronáutica em Portugal, tendo sido o primeiro piloto civil português.

Os aviadores no "Jorge de Castilho" (imagem retirada de Facebook/Museu do Ar)

Esta iniciativa enquadrava-se nas tentativas levadas a cabo por dirigentes ligados à aeronáutica militar e civil junto do poder político, defendendo o estabelecimento de ligações aéreas entre a metrópole e as colónias, bem como a presença permanente de esquadrilhas de aviões militares nessas colónias.

O avião utilizado, que realizou todo o percurso, foi um De Havilland Moth, um biplano. Foi batizado de “Jorge Castilho” em homenagem ao Major Jorge Castilho, que a bordo do “Argos”, conjuntamente com Sarmento Beires e Manuel Gouveia, tinha efetuado em 1927 a primeira travessia aérea noturna do Atlântico Sul.

Postal ilustrado com os aviadores em Luanda (Imagem retirada da publicação “GEAR – O Grupo de Esquadrilhas de Aviação República, Exposição Temporária, 21 de maio de 2016 a 14 de maio de 2017”, Ed. Núcleo Museográfico do Casal da Falagueira, CMA).

Os aviadores percorrerem 20.175 Km (incluindo o regresso) em diversas etapas, como era habitual na época, conseguindo ultrapassar múltiplas contrariedades que foram surgindo no percurso. Chegaram a Luanda no dia 18 de janeiro e a Benguela no dia 23, onde foram recebidos pelas autoridades locais e por uma assistência efusiva, como era habitual nestes eventos à época.

Público no aeródromo da Amadora aguarda o regresso dos aviadores. (Imagem retirada da publicação “GEAR – O Grupo de Esquadrilhas de Aviação República, Exposição Temporária, 21 de maio de 2016 a 14 de maio de 2017”, Ed. Núcleo Museográfico do Casal da Falagueira, CMA).

Após uma viagem de regresso sem grandes contrariedades, voltaram ao ponto de partida no dia 21 de fevereiro de 1931. O público afluiu em elevado número ao aeródromo da Amadora para assistir, pela primeira vez, ao regresso dos aviadores de uma grande viagem aérea. Após a aterragem foram recebidos de forma entusiástica por toda a assistência e entidades oficiais que os aguardavam. Depois de um Porto de Honra na Messe dos oficiais, Humberto da Cruz e Carlos Bleck foram conduzidos à Câmara Municipal de Lisboa, onde os aguardava uma sessão solene. Segundo a imprensa da época, foram acompanhados até Lisboa por “um cortejo de mais de 300 automóveis”.

Notícia no "Diário de Lisboa" sobre a chegada dos aviadores.

Pese embora o sucesso mediático deste voo e de outras iniciativas posteriores, ainda decorreriam bastante anos até que em 1946 a TAP inaugurasse a Linha Aérea Imperial, que ligava Lisboa a Luanda e Lourenço Marques (atual Maputo).

Texto: Eduardo Rocha

Bibliografia:

- Catálogo “GEAR – O Grupo de Esquadrilhas de Aviação República, Exposição Temporária, 21 de maio de 2016 a 14 de maio de 2017”, Ed. Núcleo Museográfico do Casal da Falagueira, CMA. pp. 22.

- PEIXOTO, M. Lemos, Homens e Aviões na História da Amadora, Ed. CMA.

- GUEDES, J. Correia (2022) - Nas asas do império, Visão História. 69 - Aventureiros Portugueses da Aviação, pp. 60.



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