Voo Amadora - Guine (Bolama) - 1925


O voo Amadora – Guine (Bolama) de 1925 foi a primeira viagem aérea às colónias de portuguesas em África. Teve como objetivo reafirmar à época a soberania portuguesa nas colónias e reconhecer esta potencial rota aérea e sua possível extensão à restante África portuguesa, face às já criadas por outras potências coloniais europeias. 

O avião “Santa Filomena”, com a sua tripulação a bordo

A ideia da viagem partiu de José Pedro Pinheiro Correia, oficial da Arma de Aeronáutica do Exército, que teve de realizar diversas diligências burocráticas e reunir os recursos necessários para a viagem. Este processo teve início em outubro do ano anterior,  quando o capitão Pinheiro Correia e o tenente Joaquim Sérgio da Silva entregaram de um requerimento ao Comandante do Grupo de Esquadrilhas de Aviação República na Amadora, António Brito Pais, solicitando autorização para realizar o raide. 

A tripulação do avião “Santa Filomena”: Tenente Sérgio da Silva, Capitão Pinheiro Correia e Sargento Manuel António.

O aeroplano utilizado para esta epopeia foi um Breguet Br-14 A2, um dos que integrava a esquadrilha do G.E.A.R., tendo sido escolhido o aparelho com a célula nº15 que foi batizado de “Santa Filomena”, sendo a tripulação constituída por naturalmente pelos pilotos Pinheiro Correia e Sérgio Silva, mas também por um mecânico, inicialmente Manuel Gouveia, que abandonaria o projeto após a primeira tentativa, sendo substituído por  Manuel António, este último um dos pioneiros da aviação portuguesa que sempre residiu na Amadora. De referir  que as modificações e adaptações efetuadas no avião estiveram a cargo precisamente da equipa de Manuel Gouveia na Amadora, que incluia Manuel António.

Realizou-se uma primeira descolagem a 7 de março, mas no decorrer do percurso inicial, o avião acabou por fazer uma aterragem forçada no Algarve, perto de Quarteira, devido ao nevoeiro. Neste acidente a tripulação saiu ilesa, exceto o mecânico Manuel Gouveia que sofreu ferimentos ligeiros. Tendo ficado danificado nesta manobra, o aparelho não pode continuar e teve de regressar à Amadora para reparações.  

Paragem em Dakar, Senegal.

Assim, foi a 27 março de 1925 que o “Santa Filomena” retomou o voo da Amadora para concretizar a viagem até Bolama, já com Manuel António como mecânico, tendo chegado ainda nesse mesmo dia a Casablanca. No entanto, esta etapa inaugural seria igualmente marcada por um acidente, desta vez com consequências trágicas. Um avião igualmente do modelo Breguet Br-14, que escoltava o “Santa Filomena” na parte inicial do voo até à serra da Arrábida, veio a despenhar-se no regresso em Barcarena devido a uma falha no motor. Neste desastre faleceram os tenentes José Carlos Piçarra e Luís Baptista Caldas e ainda o jornalista do "O Século", Mário Graça.

Chegada dos aviadores a Bolama, no dia 2 de Abril

Apesar de abalados pela noticia, que apenas receberam em Casablanca no final da  etapa,  atripulação decidiu continuar o voo em homenagem às vitimas. As restantes etapas foram sendo realizados com maiores ou menores dificuldades, tendo sido aproveitadas as estruturas existentes para a linha aérea Casablanca e Dakar. Nesta viagem à Guiné percorreu-se uma distância total de 4600 quilómetros e foi realizada em cerca de 32 horas de voo, tendo o avião chegado a Bolama a 2 de Abril de 1925.


Reportagem sobre a partida do avião no O Século, 28-03-1925, p.2.


Texto: Eduardo Rocha.

Bibliografia:

GEAR – O Grupo de Esquadrilhas de Aviação República, Exposição Temporária, 21 de maio de 2016 a 14 de maio de 2017”, Ed. Núcleo Museográfico do Casal da Falagueira, CMA

 JÚNIOR, J. Plácido (2022) - Para Africa, sem medos, Visão História. 69 - Aventureiros Portugueses da Aviação, pp. 64-67.

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