O território da atual Amadora era atravessado por duas Estradas Reais, a “Estrada Real Lisboa-Sintra” e a “Estrada Real Lisboa-Mafra”. Referenciadas pelo menos desde o século XVIII, sendo provável a sua maior antiguidade, foram os principais eixos viários da região até meados do século XX. Estas Estradas começavam em Lisboa e seguiam por uma só via, que era comum até ao antigo lugar da Porcalhota.
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Portas de Benfica (foto Arquivo Municipal de Lisboa) |
O traçado destas vias mantém-se relativamente preservado, sendo possível reconstituir o seu itinerário. Na Amadora o percurso comum corresponde à atual Rua Elias Garcia, a partir das atuais Portas de Benfica até à antiga passagem de nível na Porcalhota de cima. Neste local, as estradas bifurcavam e cada uma seguia destinos diferentes:
- A Estrada de Mafra seguia pela direita, (hoje Rua Elias Garcia) passando à Quinta da Amadora, Ponte de Carenque, Pendão, tomando a direção de Belas e rumando para Mafra;
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Quinta do Assentista, junto ao troço comum das Estradas Reais (foto Arquivo Municipal de Lisboa) |
- A Estrada de Sintra seguia pela esquerda (hoje Rua Gonçalves Ramos e Estrada Velha de Queluz), atravessava os campos do Alto Maduro, descia para o vale da Ribeira de Carenque, que atravessava sobre a ponte Filipina, em direção ao Palácio de Queluz, prosseguindo para Sintra.
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Ponte Filipina (foto ARQA efetuada antes da atual renovação)
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Inscrição na Ponte Filipina: "ESTA PONTE MANDOU FAZER O SENADO DE LISBOA À CUSTA DO REAL DO POVO, 1631" (foto ARQA) |
Estas vias serviam para escoar os produtos da região, surgindo igualmente um conjunto de serviços de apoio aos viajantes, desde "casas de pasto" a mudas de cavalos, passando pelos mais variados estabelecimentos comerciais, que vendiam os seus produtos junto às estradas. Neste contexto ganhou relevância no início do século XIX a povoação da Porcalhota, localizada sensivelmente a meio do percurso que ligava Lisboa a Sintra.
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O antigo edifício do Restaurante "Pedro dos Coelhos" é o primeiro à esquerda, já demolido (foto Arquivo Municipal de Lisboa) |
Neste lugar destacava-se uma famosa "casa de pasto", denominada
"Pedro dos Coelhos", que como o próprio nome indicava, tinha por iguaria principal do seu menu um prato à base de carne de coelho com arroz. Existem diversas referências literárias da época às paragens gastronómicas neste lugar, sendo a mais conhecida a existente no livro "Os Maias" de Eça de Queirós.
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Localização original do Chafariz da Porcalhota junto do troço comum das Estradas Reais (foto Arquivo Municipal de Lisboa) |
Efetivamente esta povoação concentrou um conjunto de atividades ligadas à passagem por esta via, desde a Garagem Amadora ou do "China", passando pela própria presença do Chafariz da Porcalhota, que servia quer os viajantes, quer os animais de tração dos veículos. Este cenário foi gradualmente alterando-se, primeiro com a implementação das ligações ferroviárias e posteriormente pela edificação de estradas alternativas, convertendo-se o antigo percurso na via essencialmente urbana que hoje conhecemos.
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Correnteza de casas na Rua Elias Garcia, antiga "Estrada Real" (foto ARQA) |
Texto: Eduardo Rocha.
Bibliografia
XAVIER, Gabriela, ENCARNAÇÃO, Gisela (2009), Património Classificado Município da Amadora, Câmara Municipal da Amadora, Amadora, pp 44-47
XAVIER, Gabriela (2013), Pela Estrada da Porcalhota, Catálogo de Exposição Temporária, Edicão Câmara Municipal da Amadora.
CALIXTO, Vasco (1987), “Páginas da História da Amadora”, Ed. Câmara Municipal da Amadora, pp. 107-108.
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