Primeiro voo na Amadora por Alexandre Sallés - 1913

 No dia 26 de janeiro de 1913, assistiu-se à primeira demonstração de voo de um aeroplano na Amadora, realizada pelo aviador francês Alexandre Sallés, pilotando um Bleriot XI. Tratou-se do início de uma epopeia que iria marcar a história da Amadora, com particular ligação aos feitos da aviação portuguesa na primeira metade do século XX.

Fig.  1 - O avião de Alexandre Sallé após a aterragem.

Alexandre Sallés partiu com o seu avião do hipódromo de Belém. Este já tinha sido palco das primeiras demonstrações de voos em Portugal, nomeadamente a realizada a 17 de Outubro de 1909 por Armand Zipfel aos comandos de biplano "Voisin Antoinette", num curto voo de 180 metros a 8 metros de altura, e a de 27 de abril de 1910 por Julien Mamet, num "Bleriot XI", o mesmo tipo de avião que Alexandre Sallés utilizou no seu voo até a Amadora (Ilustração Portuguesa nº192 e nº220). 

Voltando ao nosso voo, depois de sair de Belém o aviador dirigiu-se para norte e procurou aterrar nos terrenos do “Casal do Burel”, próximo de onde posteriormente se iria localizar o aeródromo da Amadora. Uma multidão aguardava-o no local, numa iniciativa que tinha sido promovida por entidades locais, nomeadamente por membros da "Liga de Melhoramentos". No entanto, a manobra de aterragem não correu bem, tendo "afocinhando" a parte dianteira nos terrenos lavrados. O avião ficou danificado, despedaçando parte considerável da estrutura e partido a respetiva hélice. (Fig1 e Fig. 2)

Fig. 2 - O avião sinistrado após a aterragem, de outra perspetiva (Imagem retirada da publicação 1 da Bibliografia)

O Bleriot acabou por ser reparado nas oficinas da Fábrica de Espartilhos da empresa Santos Mattos & Companhia, o que foi possível dadas as características ainda rudimentares da aeronave. O aviador ficou na povoação enquanto decorria a reparação e a demonstração completa teve finalmente lugar a 2 de fevereiro seguinte.

Fig. 3 - A aeronave após a reparação, envergando o nome "Amadora" nas asas (foto Wikipédia Francesa)

Durante a sua estadia, Alexandre Sallés iria de estabelecer uma interessante empatia com a população local, com destaque natural para os membros da "Liga de Melhoramentos" e suas famílias, como é notório numa das fotografias da época (Fig. 4). O avião reparado seria inclusive  batizado de "Amadora" (Fig. 3).

Fig. 4 - Alexandre Sallés, com duas crianças ao colo, conjuntamente com os industriais da Santos Mattos & C.ª e amigos, no ringue de patinagem dos Recreios da Amadora (Imagem retirada da publicação 1 da Bibliografia)

Curiosamente, como recordação deste evento, foi efetuado um quadro composto pela hélice fragmentada do Bleriot e uma fotografia de Alexandre Sallés. Posteriormente, este quadro foi colocado no edifício dos Recreios da Amadora, na altura contiguo à Fábrica de Espartilhos (Fig. 5).

Fig. 5 - Quadro composto pela hélice fragmentada do Bleriot e uma fotografia de Alexandre Sallés, que esteve nos Recreios da Amadora (foto ARQA).

Alexandre Sallés haveria de continuar em Portugal, efetuando novas exibições com o seu avião agora batizado de "Amadora", conforme nos transmite a impressa da época (Ilustração Portuguesa nº386). Com o deflagrar do 1º conflito mundial, em 1914 integra a aviação francesa, mas mantém a ligação a Portugal à distância, relatando para o jornal A Capital de 15 de março de 1915, as suas impressões da guerra, escritas entre "dois reconhecimentos". Mais tarde nesse mesmo ano teria de se retirar como aviador, sobrevivendo no entanto aos dois conflitos mundiais, tendo falecido a 1 de dezembro de 1956.

Fig. 6 - Noticia de demonstração de Sallés em Braga com o seu aeroplano "Amadora", na Ilustração Portuguesa nº386 de 14 julho 1913.


Texto: Eduardo Rocha


Bibliografia:

 1 - "GEAR – O Grupo de Esquadrilhas de Aviação República, Exposição Temporária, 21 de maio de 2016 a 14 de maio de 2017”, Ed. Núcleo Museográfico do Casal da Falagueira, CMA.

2 - CALIXTO, Vasco (1987), “Páginas da História da Amadora”, Ed. Câmara Municipal da Amadora.

Fontes:

1 - "A primeira experiência de aviação em Lisboa", in Ilustração Portuguesa nº192, pag. 542-543

2 - "Pela primeira vez Lisboa vê um homem voar", in Ilustração Portuguesa nº220, pag. 607-608

4 - Ilustração Portuguesa nº386 de 14 de julho de 1913, pag. 54.

5 - A Capital, Diário Republicano da Noite, nº1655 de 15 de março 1915.



Fontes das imagens:

MMA - Museu Municipal de Arqueologia da Amadora

ARQA - Associação de Arqueologia da Amadora


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