O Paleolítico da Amadora

A mais antiga presença do Homem no atual território da Amadora é nos revelada por utensílios em pedra lascada, encontrados sobretudo na zona da Serra de Carnaxide e do antigo campo de aviação na Quinta do Borel e sua envolvente. A investigação deste conjunto de sítios iria originar o aparecimento da designação “Paleolítico da Amadora”, conceito que teve um interessante protagonismo na história da arqueologia portuguesa.

Bifaces em quartzito recolhidos em Alfragide Primeiro (Museu Municipal de Arqueologia da Amadora)

Os primeiros sítios foram identificados por Vergílio Correia entre 1909 e 1912, seguindo-se os estudos de Joaquim Fontes na década seguinte. Nas décadas de trinta e quarenta, o estudo das jazidas paleolíticas na região de Lisboa e em particular na Amadora, adquirem uma importância singular no panorama arqueológico nacional. 

Vista da Serra de Carnaxide, com o antigo Campo de Aviação em primeiro plano, onde se localizam a maior parte dos sítios do Paleolítico na Amadora. (foto ARQA)

Em 1934, na sua Carta Paleolítica e Epipaleolítica de Portugal, Afonso do Paço evidenciara o elevado número de jazidas deste período existentes na Amadora, mas seria a presença em Portugal do eminente arqueólogo francês Henri Breuil que daria um significativo impulso às investigações.
Almoço de despedida de Henry Breuil foto in CARDOSO, João Luís (1997) - Reconhecidos a Georges Zbyszewski, Setúbal Arqueológica, Vols 11-12, pag,15.

As circunstâncias que trouxeram Henry Breuil estão diretamente relacionadas com o desenrolar da 2.ª Guerra Mundial, tendo chegado a Portugal em Abril de 1941. Colabora durante a sua estadia com Georges Zbyszewski, nos Serviços Geológicos de Portugal, com quem inicia uma relação profissional de grande contributo para a pré-história portuguesa, e visita regularmente o seu compatriota e arqueólogo Jean Ollivier, que havia fixado residência precisamente na Amadora.

Artigo publicado no Arqueólogo Português - 2.ª Série, volume 1 (1951), pag. 67-82

Mapa no artigo publicado no Arqueólogo Português - 2.ª Série, volume 1 (1951), pag. 67-82

Jean Ollivier dedicaria especial atenção às jazidas da Amadora. Este arqueólogo dedicaria extenso trabalho ao estudo destes locais, publicando diversas monografias, que culminaram em 1951 na publicação do artigo "Industries anciennes du Paléolithique d´Amadora", onde o autor efetua um breve historial das descobertas e estudos do Paleolítico nesta região, descrevendo alguns dos utensílios e apresentando uma carta com a implantação dos sítios do "Paleolítico da Amadora". Com este termo designa o conjunto de estações paleolíticas de superfície desta região, incluindo áreas dos municípios vizinhos.

Biface em quartzito recolhido em Alfragide Primeiro (Museu Municipal de Arqueologia da Amadora)

Já na década de 70, António Gonzalez e outros membros de um grupo local de investigação (que dará origem à ARQA), identificaram nesta zona novas estações arqueológicas de superfície desta cronologia, encontrando-se no Museu Municipal de Arqueologia da Amadora o espólio recolhido neste período.

O Paleolítico foi um período extenso ao longo do qual a humanidade conheceu uma significativa evolução física e cultural, desde os primeiros hominídeos que surgiram em África há aproximadamente 4 milhões de anos, até aos humanos anatomicamente modernos há cerca de 200.000 anos, e durante a qual a humanidade expandiu-se por todo o planeta. Utensílios em pedra lascada produzidos por estes primeiros humanos foram encontrados no atual território da Amadora (bifaces, as lascas levallois, raspadores, buris e furadores), revelando a mais antiga presença na região. As comunidades desta época alimentavam-se do que recolhiam na natureza, ouse seja, da caça de animais e da recoleção de plantas, frutos e tubérculos, pelo que não viviam sempre no mesmo lugar, eram nómadas. Os sítios arqueológicos mais importantes na Amadora são Alfragide Primeiro/Serra de Carnaxide e Campo de Aviação/Casal do Borel. 



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